Descobrir os encantos da Culinária do Centro-Oeste do Brasil é uma verdadeira jornada pelas raízes e tradições da segunda maior região do Brasil. Nos pratos emblemáticos de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal, ingredientes nativos e especiarias singulares se destacam.
A cereja do bolo é a influência de sabores dos países adjacentes, culminando em uma culinária que ostenta autenticidade e singularidade no cenário brasileiro. Convidamos você a explorar os deliciosos pratos desta região.
Por Ivoneti Silva e Iana T. Castro – Vale do Sabor
29/05/2024 às 16h53
Pequi e Guariroba: Ingredientes Únicos da Região
No Centro-Oeste brasileiro, dois ingredientes se destacam e representam a alma e o sabor da região: o pequi e a guariroba.
Pequi
O pequi, fruto do pequizeiro, é uma das maiores delícias e, ao mesmo tempo, um desafio da culinária do Centro-Oeste. Característico por sua polpa amarela, aromática e com sabor marcante, o pequi é frequentemente usado em pratos tradicionais da região, como o arroz com pequi ou o frango com pequi.
Porém, o fruto esconde espinhos sob sua polpa, tornando sua degustação um ritual que exige cuidado para evitar mordidas dolorosas. Isso, porém, não diminui sua popularidade e é até mesmo visto com um toque de charme e mistério.
Confira algumas das receitas típicas que tem o pequi como ingrediente principal:
- Arroz com Pequi: Talvez seja a preparação mais tradicional, este prato é feito com arroz cozido e pequi, geralmente acompanhado de frango ou outra carne. O pequi confere ao arroz um sabor e uma coloração amarelada única.
- Frango com Pequi: Uma combinação que faz sucesso no Centro-Oeste, o frango cozido com pequi é um prato cheio de sabor e geralmente é preparado em panelas de barro para realçar ainda mais seu gosto.
- Empadão Goiano com Pequi: O empadão goiano é uma espécie de torta recheada, e em algumas versões, o pequi é adicionado ao recheio, que pode conter frango, guariroba e outros ingredientes típicos da região.
- Pamonha com Pequi: Uma variação da tradicional pamonha, a versão com pequi é uma deliciosa iguaria que mistura o sabor do milho verde com o sabor marcante do pequi.
- Molho de Pequi: Usado como acompanhamento em diversos pratos, o molho de pequi é feito com o fruto cozido e pode ser servido com carnes, aves e peixes.
- Licor de Pequi: Além dos pratos salgados, o pequi também é usado na produção de licores, sendo uma bebida doce e aromática, típica de festas regionais.
- Doce de Pequi: Preparado com o fruto cozido em calda de açúcar, o doce de pequi é uma sobremesa tradicional em algumas áreas do Centro-Oeste.
Estes são apenas alguns exemplos de como o pequi é versátil e pode ser utilizado em diversas preparações. Sem dúvida, quem visita a região do Centro-Oeste não pode deixar de experimentar essa iguaria única.
Guariroba
Conhecida carinhosamente pelos goianos como “gueroba”, essa é uma variedade de palmito encontrada no cerrado brasileiro. Sua palmeira, majestosa, pode alcançar impressionantes 20 metros de altura.
Extraído do núcleo da Palmeira de Guariroba, o palmito tem formato cilíndrico, cor branca e um sabor levemente amargo, que é sua marca registrada. A origem de seu nome tem raízes na língua Tupi Guarani e faz alusão a esse “palmito de gosto amargo”.
Este palmito é tradicionalmente usado no preparo do “empadão goiano” e outros pratos típicos, geralmente em combinação com carnes e outros vegetais. Para aqueles que apreciam seu sabor, a guariroba é vista como um ingrediente que agrega valor e identidade aos pratos.
Para desfrutar dos inúmeros benefícios que o palmito guariroba tem a oferecer, basta incorporá-lo à sua dieta.
As opções são variadas, desde refogados até saladas frescas. Esse alimento é uma fonte rica de vitaminas e minerais.
Pequi e Guariroba são símbolos da rica biodiversidade brasileira e representantes da cultura e tradição do Centro-Oeste. Seus sabores, embora desafiadores para alguns paladares, são uma amostra da vasta paleta de gostos que o Brasil tem a oferecer.
Experimentá-los é uma maneira de conectar-se com a essência desta região, apreciando e valorizando a herança gastronômica que ela oferece.
Arroz com Pequi – Delícia do Mato Grosso
Quando falamos da culinária mato-grossense, é impossível não citar o Arroz com Pequi. No Mato Grosso, o pequi é utilizado de diversas maneiras, mas o Arroz com Pequi é, sem dúvidas, uma das preparações mais apreciadas.
Representante icônico da culinária goiana, o arroz com pequi destaca-se não apenas por sua simplicidade de confecção, mas também por ser um atrativo irresistível para os visitantes da região, tornando-se uma assinatura inconfundível da cozinha do Cerrado.
A história deste prato está profundamente enraizada na fusão cultural alimentar de Goiás. Esta combinação única mescla a influência global do arroz, que tem suas origens na Ásia, com a autenticidade brasileira do pequi, uma fruta que é a cara do nosso país.
Não podemos esquecer também das marcas deixadas pelos povos indígenas, africanos e portugueses no século XVII, cujas influências culinárias enriqueceram ainda mais este prato.
A presença dos bandeirantes no centro-oeste brasileiro também desempenhou um papel crucial na evolução da culinária local. A expansão territorial promovida por eles levou a uma mistura de ingredientes disponíveis na região, como grãos, arroz, carnes e aves, culminando em pratos ricos e saborosos como o arroz com pequi.
Para preparar este delicioso prato, precisamos de ingredientes simples e frescos: cebola, alho, sal, água, arroz branco, óleo de soja, pequi e, para finalizar, um toque de cheiro verde. No método de preparo tradicional, começa-se refogando a cebola e o alho em óleo quente. Logo após, acrescenta-se o pequi e refoga-se brevemente.
O arroz é então incorporado, temperado com sal e misturado até que fique bem envolvido com os sabores. Depois, é só cozinhar até que o arroz esteja macio, finalizar com cheiro verde e servir enquanto ainda estiver quente. Uma verdadeira celebração dos sabores do Cerrado em um só prato!
Ao visitar o Mato Grosso, não deixe de provar estas maravilhas e mergulhar na experiência culinária que este belo estado tem a oferecer. Certamente, são sabores que ficarão na memória e no coração de todos que os experimentarem.
Caldo de Piranha: Prato Típico do Pantanal de Mato Grosso do Sul
O Caldo de Piranha tornou-se uma especialidade renomada, especialmente ao longo da Rota Norte de Mato Grosso do Sul.
Esta espécie de peixe, famosa por sua natureza carnívora, é facilmente localizada tanto na região da Amazônia quanto nas bacias que percorrem o exuberante Pantanal. Ao longo do tempo, a piranha foi adotada como uma fonte de alimento pelas comunidades do Pantanal, sendo apreciada por seu sabor marcante e único.
A maioria das piranhas é ágil, elas tendem a se tornar agressivas apenas quando provocadas. Entre as diversas variedades deste peixe, algumas exibem comportamento canibal, mas todas são conhecidas por sua agressividade.
Devido à sua estrutura óssea complexa, a piranha não é comumente consumida inteira. Portanto, o caldo é o prato preferido quando se trata deste peixe, valorizando seu sabor sem o desafio de suas espinhas.
No Mato Grosso do Sul, é tradicional saborear o caldo de piranha em pequenas tigelas ou xícaras. Muitos preferem uma pitada generosa de pimenta para intensificar o sabor. Além disso, é comum adicionar farinha de mandioca para dar mais consistência ao caldo.
Muitos acreditam que ele tem o poder de aumentar a vitalidade e a resistência, tornando-o um prato popular, especialmente entre os homens.
Empadão Goiano e Biscoito de Queijo: Sabores de Goiás
Goiás, situado no coração do Brasil, abriga uma rica e saborosa tradição culinária, representada em seus pratos típicos. E entre essas delícias, o Empadão Goiano e o Biscoito de Queijo se destacam como verdadeiros ícones da gastronomia regional.
Empadão Goiano
Embora a origem exata do empadão goiano seja incerta, muitos especulam que ele se deriva de tortas salgadas europeias. Tradicionalmente, portugueses e espanhóis consumiam tortas recheadas com carnes e mariscos. Ao serem introduzidas no Brasil, essas receitas passaram por transformações.
O empadão goiano, como é conhecido hoje, teria surgido aproximadamente 150 anos atrás em Goiás, na época chamada de Vila Boa e capital do estado. Logo, sua popularidade se espalhou por todo o Cerrado.
Embora a versão clássica seja com frango, ao longo do tempo, ingredientes variados foram incorporados, incluindo queijo fresco, palmito, ovo cozido e alguns elementos regionais como o pequi e a guariroba.
Para aqueles não familiarizados com a cultura goiana, o empadão pode parecer similar às empadas tradicionais de outras regiões brasileiras.
No entanto, ele se distingue pelo seu tamanho considerável e pela maneira como é preparado, com uma massa fina e generosamente recheada. Ao longo das décadas, consolidou-se como um ícone da culinária de Goiás, sendo facilmente encontrado em diversos locais do estado, inclusive na capital.
O Empadão Goiano é uma refeição completa em si, repleta de sabores e texturas. A sua massa, diferente da tradicional empada, é levemente macia e crocante.
O recheio é o que realmente o diferencia: uma combinação saborosa de carne de frango, linguiça suína, palmito, azeitonas, ovos, entre outros ingredientes, dependendo da variação da receita.
Com um preparo que exige paciência e carinho, o Empadão Goiano é geralmente servido em ocasiões especiais, festas e encontros de família. Cada garfada é uma experiência que remete à tradição, ao lar e à cultura goiana.
Biscoito de Queijo
Menos conhecido fora das fronteiras do estado, mas não menos saboroso, está o Biscoito de Queijo. Apesar de seu nome, esta iguaria é diferente dos tradicionais pães de queijo mineiros. O Biscoito de Queijo tem uma textura mais firme e crocante, enquanto seu interior é macio e saboroso, com um gosto de queijo predominante.
Feito basicamente de polvilho, queijo, ovos e manteiga, ele é uma ótima opção para acompanhar um café fresco no fim da tarde. Suas origens são humildes, muitas vezes relacionadas aos lanches da tarde nas fazendas goianas, mas seu sabor é inconfundível e conquista a todos que o experimentam.
Essas são apenas duas das muitas maravilhas gastronômicas que Goiás tem a oferecer. Em cada esquina, em cada cidade, a rica cultura do estado se manifesta também em sua comida, proporcionando a residentes e visitantes uma verdadeira viagem sensorial pelo coração do Brasil.
Curiosidade Culinária da Região Centro-Oeste do Brasil
Vamos mergulhar na história do Chico Angu e descobrir curiosidades sobre essa maravilha gastronômica.
História do Chico Angu
A história do Chico Angu remonta à época colonial, quando o Brasil estava começando a moldar sua identidade culinária.
O “Chico Angu” é um clássico da culinária do Distrito Federal, no entanto, é um prato de origem mineira, consistindo em galinha caipira acompanhada de angu e quiabo salteado.
Marcos Lelis, professor de Cozinha Brasileira e Cozinha Internacional do Centro Universitário IESB, sugere que foi Juscelino Kubitscheck quem levou a receita para o planalto durante a construção de Brasília. Nessa reportagem, você pode conferir a polêmica acerca da origem do prato.
Origens e Evolução
De acordo com a pesquisadora Maria Augusta Carvalho, o angu, assim como o frango com quiabo, é tradicional na culinária de Minas Gerais e da Bahia.
Na língua africana, a palavra angu referia-se a uma papa de inhame sem tempero. No Brasil, o termo “angu” era usado para nomear papas feitas com farinha de mandioca ou de milho. Com o tempo, “angu” passou a designar apenas as papas de fubá, enquanto as feitas com farinha de mandioca passaram a ser chamadas de pirão.
A técnica de cozimento do milho, transformando-o numa espécie de polenta, foi sendo adaptada e aprimorada. Com a adição de carnes e outros ingredientes disponíveis na região, o Chico Angu foi ganhando a forma como o conhecemos hoje.
Singularidades do prato Chico Angu
Seu sabor, ingredientes e história estão intrinsecamente ligados às tradições e influências culturais do Brasil. Aqui estão algumas curiosidades sobre este prato tão especial:
- Favorito de Juscelino Kubitschek: O ex-presidente Juscelino Kubitschek tinha uma paixão especial pelo Chico Angu. De origem mineira, JK trouxe a receita para o planalto quando decidiu construir Brasília, a atual capital do Brasil.
- Nome Curioso: Até hoje, não se sabe ao certo a origem exata do nome “Chico Angu”.
- Um Prato Acessível: Na época colonial, o Chico Angu era considerado uma refeição acessível, feita com ingredientes facilmente disponíveis e baratos. Esta é uma das razões pelas quais o prato se tornou tão popular entre as classes trabalhadoras e rurais.
- Reconhecimento Moderno: Hoje, o Chico Angu não é apenas uma comida caseira. Ele ganhou espaço em restaurantes sofisticados e é valorizado como uma autêntica representação da culinária brasileira, mostrando como os pratos tradicionais podem transcender barreiras sociais e temporais.
Explorando os Sabores da Culinária do Centro-Oeste do Brasil
A região Centro-Oeste apresenta uma culinária rica e diversificada, influenciada pelas culturas indígenas, pelos sertanejos e pelas recentes migrações de outras partes do Brasil.
A seguir, mais alguns dos pratos típicos dessa região:
- Pintado à Urucum: O pintado é um dos peixes mais emblemáticos do Pantanal. Neste prato, o peixe é marinado em temperos locais, incluindo o urucum, que dá cor e sabor característicos à receita, e depois é assado ou grelhado.
- Guavira: Este é o nome de uma fruta típica do Mato Grosso do Sul. Pequena e de sabor agridoce, é consumida in natura, em sucos ou em sobremesas. A guavira é tão importante para a cultura local que há um festival anual celebrando essa fruta.
- Sopa Paraguaia: Apesar do nome, não é uma sopa. É um bolo salgado feito com milho, queijo e cebola. Diz a história que a sopa paraguaia foi um erro culinário que se tornou tradição. Originalmente, os ingredientes seriam para uma sopa de milho, mas alguém adicionou farinha em excesso, transformando-a em um bolo.
- Doce de Buriti: O buriti é uma palmeira típica do Cerrado e seus frutos são utilizados em diversas receitas. O doce de buriti é saboroso e tem uma coloração laranja vibrante, sendo consumido puro ou como recheio de doces e bolos.
- Carne Seca com Abóbora: Prato tradicional que combina a salinidade da carne seca com a doçura da abóbora, criando um equilíbrio perfeito de sabores.
- Barreado do Pantanal: Inspirado no barreado paranaense, esta versão utiliza carnes típicas da região, como capivara, e é cozido em panela de barro até que a carne se desfaça.
- Mutuca: Prato feito a partir de um pequeno besouro, encontrado no Pantanal. Após serem limpos e cozidos, são torrados e podem ser consumidos como petisco ou adicionados aos pratos.
A região Centro-Oeste é um verdadeiro mosaico de culturas e sabores, com uma gastronomia que reflete a riqueza natural e cultural da região. Seus pratos são uma celebração da biodiversidade do Cerrado e do Pantanal, ao degustar esses sabores, é possível sentir a alma vibrante do Centro-Oeste em cada mordida.